segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Vai, menina...

Quis ser, foi e foi. Saiu por tudo com vontade tamanha que se surpreendeu em como aquela energia tão grande coube, por tempo, em tão pequeno corpo. No instante seguinte, lembrou-se de certa frase lida em qualquer livro qualquer: “Meu corpo vai até as estrelas”. Riu. Tudo havia brotado tão fortemente nela que até segurança sentia. Pra aonde ir? Pra aonde for, pra aonde a levassem. Freedom, liberdade e chega, não era muito de línguas, apesar de depois ter se lembrado de liberté e libertad – todos têm isso de pensar o quiser de si, falar pra si próprio o que quiser ouvir e acreditar no que desejar acreditar. Tinha muitos amigos, todos queridos, mas uns novos, repentinos e completamente diferentes fizeram-lhe ver outro lado das coisas. O lado do acaso, do de repente, do que é marcado por vontades fortes – e por que não inconseqüentes -, e de intensas paixões momentâneas – e por que não vazias. Viu tudo isso e não soube aonde se encaixava e nem se havia nascido pra essa vida. Porém, admirava – e por que não invejava – tal filosofia e resolveu, copiosa e propositalmente, mudar e viver aquilo que temia ou hesitava. Mas calma, menos pressa, as coisas mudam, às vezes pra melhor, mas sempre gradualmente, e ela tinha acabado de dar sequer o primeiro passo... Do seu jeito, mas sim um primeiro passo: Resolveu escrever, em caderno velho e em terceira pessoa, que quis ser, foi e foi.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Esquecer.

Meu Deus, o que está acontecendo? Quando menos esperei me encontrei numa festa! Sim, muito animada, e as pessoas pareciam não me notar! Que roupa esquisita que estou usando, toda branca, nunca fui disso... Estranho. Os rostos são todos familiares. Meu Deus... Lembro-me exatamente de cada um! Amigos, familiares, grandes pessoas que me fizeram ser o que sou – ou o que era. Alberto, Clara, João, Tutu, Gago, Horácio, Arlinda, Carmélia... Quanta alegria... Quanta tristeza. Que saudades enormes, que vontade de chorar cascatas, que vontade de voltar tudo, de rir junto e alto pela última vez, de dormir feliz, de beber cerveja, de jogar truco, de abraçar, de dançar, de embriagar, de madrugar, de sentar e sentir cansaço após muita brincadeira... Minha vida toda ali: As pessoas que me marcaram, que me criaram e que me determinaram, todas ali – minha vida. A música toca alto, elas dançam e conversam, exatamente como eram nossas festas, mas não ouço as palavras. Cinema mudo. Cores, flores, saltos, traços, antigos, amigos, vida, perdida, tempo, memória, saudade, vontade. Quero e não quero sair dali. A curiosidade é maior, sempre foi, e por ali permaneço até o instante em que, enfim, cai a primeira lágrima. Abriu a porteira. Choro, choro e choro até não poder mais. Meus olhos agora estão vermelhos e inchados, o nariz deixa escorrer ranho pela boca e o paletó branco vira guardanapo – ou toalha. Preciso enxugar, estancar aquela lágrima-sangue! Minha vida esteve diante dos meus olhos e, como reprise de como ela prosseguiu e terminou, derramou-se como cascata – enfim consegui - pelo meu rosto enrugado pela velhice e pela água. Foi muita tristeza para mim. Fiquei realmente incomodado, chorei horrores e não conseguia parar, fechei os olhos por minutos para forçar o cessar das lágrimas. Funcionou. Quando voltei a abrir, nada mais estava lá, agora era só eu naquele salão desconhecido enorme e vazio, sujo. Os vestígios de serpentina, marcas no chão, bebidas derramadas e garrafas vazias denunciavam o que havia acontecido ali. Imaginei estar escrito na entrada do local: Festa Vita. Chorei de novo: Lembrei que Lindonéia não esteve por lá. Será que ela apareceu bem na hora que fechei os olhos para secar o rosto? Claro! Como fui estúpido! Perdi meu amor pela segunda vez, isso já era demais. Por que ela não veio falar comigo? Não, ninguém me via e eu ainda estava com o rosto coberto... Perdi. E agora, para aonde ir? Não vejo portas nesse salão, apenas janelas grandes que dão para um grande precipício. Quando eu falo precipício, quero dizer o que a palavra realmente diz. Um enorme buraco, sem vista para o fim, sem vista para o horizonte, só esse salão solto e suspenso no ar. O próprio abismo deu o pequeno empurrão que eu precisava: Me atirei.