quinta-feira, 28 de maio de 2009

essa ausência de cerol
corta meus nervos de aço
e, com o tempo,
a dor já não rasga tanto.

enfurece-me essa triste adaptação
que transforma a merda numa não tão merda assim
fazendo-me achar que isso não é tão ruim

e vêm então aquelas visitas à longa distância
e a ausência parece congelar-se com a imagem dela,
entretanto, ao sentir a tela vem-me a raiva de
realmente haver um mundo e um computador entre nós.

maldita tecnologia
preferia eu escrever e receber cartas
tão mais íntimo que uma foto três por quatro
em tempo real!

nela, pelo menos,
eu teria a certeza de que estamos longe
em vez de tentar ficar me convencendo
de que estamos há um palmo de distância.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

oração

Calma, amigo, vai devagar que o tempo é querido. Ele o espera para, apenas, ver-te nos momentos mais gloriosos da vida tua. Se chegar a noite e teu telhado te impedir de ver as estrelas, fecha os olhos e as veja uma a uma, rezando baixinho à qualquer deus que de dentro de ti viver - se viver - pedindo que esteja contigo para qualquer possível revés. Porém, querido, vai devagar que o tempo é amigo, mas carrega consigo um coração de doces costumes, vícios e mimos, ele vai te querer a qualquer custo, o levando pelos pés quando não te vigiares ao jogar a cabeça ao vento.

Portanto, tempo, vai devagar que meu amigo é querido. Ele apenas se exastou percorrendo quilômetros de vida de chão batido com pés de anjo, doces e virgens. Ajude, por obséquio, a este próximo irmão que já cogita a desregra como espírito e questiona por vezes a bondade em ti presente. Saiba que seguidas feridas foram marcadas a ferro e fogo, em carne viva, em seu pálido corpo. Mostre-o aonde ir, mas não ame-o demais para que, possa ao menos uma vez, jogar a cabeça ao vento e fechar os olhos devido ao ar forte, sem ter que segurar os pés.

domingo, 10 de maio de 2009

sábado morto

quero me enforcar nos teus cabelos!

quinta-feira, 7 de maio de 2009

o deus e adeus

Boio e balanço nesse mar, brinco com a água e os peixes, remo pra não chegar e chego pra não descer. Quando quebra na praia é bonito, quando traz sempre novas conchas que decoram exaustivamente esse meu jardim amarelo é perfeccionista. Quando faz música nos ouvidos soa bossa, quando molha meus pés é analgésico e quando esbraveja nas ondas é amor materno. Quando se encolhe ao anoitecer é cacique, mas quando estende-se numa manhã ensolarada é recém-nascido. Quando chove e enfurece-se é adolescente mimado, mas quando vem a calmaria é o mesmo apaixonado. Quando me leva é homem, quando eu chego é mulher, o deus e adeus me navegam: só hoje descobri.