sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

são demais os perigos dessa vida

A vida nos separa, o tempo nos enforca. Se tudo fosse decidido naquela hora que você está pensando: "Quero ficar assim pra sempre, amando desse jeito e de repente, sei lá, ter uns três filhos", você com certeza seria feliz, a qualquer custo, com aquela pessoa, pra sempre. Mas o poeta já avisou que "são demais os perigos dessa vida", e antes fosse poder resolver tudo desse jeito. Como eu queria lembrar disso todas as horas! Não me esquecer nenhum instante desse amor gigante que tenho em mim,e aí a partir disso manejar todos os meus atos e posições...



ps: leiam Marley & Eu

sábado, 20 de dezembro de 2008

coração cigano

Dois pés apontavam para lá

As folhas corriam pelo chão

Novamente um caminho que sumia

No horizonte desconhecido

 

Duas vozes palpitavam para onde ir

Qual das duas tinha a razão?

Muito tempo foi pra perceber

Nenhuma delas era o coração

 

Mas se só ele sabe o que é certo

Por que se cala quando a outra voz me fala o caminho da solidão?

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Esquecer.


Soube hoje que eu tinha oitenta e quatro anos. Via-me no espelho e sim, isso fazia sentido – embora não tivesse feito por tantas outras vezes. A descoberta repercutiu em forma de saudade, saudade de outros tempos, da mamãe, do papai, da Lindonéia, de tudo que em mim marcou a ferro. Queria tanto os ver de novo, por onde será que andavam? Não sabia como ir, por onde ir, o que fazer, mas uma vontade intrínseca movia-me como um servo obediente.

Impediam-me a qualquer custo, inventavam histórias – eu podia sentir que eram inventadas – e desnorteado eu olhava para os lados buscando a chave da porta. Não estava em lugar algum! Confesso que muitas vezes utilizei-me da força para tentar, em vão, sair daqui e ir para lá, sem mesmo imaginar o que é o aqui e o lá, mas eu precisava, eu queria... Assim, no auge da minha fúria um buraco negro se formava em meu cérebro e eu esquecia, esquecia do porquê daquilo tudo, o que diabos estava eu fazendo ali. Como disfarce cedia às pressões e achava melhor descansar esse corpo sem propósito. Era melhor ir dormir.

Lá no fundo morava uma idéia de não querer mais acordar, dormir para sempre, morrer. Quem sabe assim eu encontrava papai, mamãe e Lindonéia, minha amada perdida e esquecida no tempo e na memória, e saciava esse ser dentro de mim que me movia de um lado para o outro sem saber por que o faz. Pensava se valia à pena acordar todo dia e descobrir cada vez mais coisas novas, ou descobrir cada vez mais que eu não sabia nada, que estava me perdendo no tempo. Pensando bem, nessa história triste há uma vantagem: no outro dia esqueceria esse meu sofrimento cômico e acordaria com a mesma paz de sempre – talvez fosse isso que alimentasse a vontade intrínseca que me fazia fugir.

Aos poucos pegava no sono e ia pensando naqueles de quem sentia falta, fazendo com que a saudade fosse lentamente sendo saciada, confortando-me o suficiente para parar com aquela idéia, agora maluca, de não querer mais acordar. Sabia que ao redor estava sendo amado por todas aquelas pessoas que se dispunham a cuidar de um velho perdido no tempo e na memória, as quais deviam saber o porquê disso, mas eu não fazia idéia. Imaginava que fosse alguma doença, porque já havia visto algumas pessoas da minha idade - quando não mais velhas – completamente lúcidas, sãs. Só rezava para que quando chegasse ao fim, não esquecesse, principalmente, daquelas amadas pessoas que quando eu acordava me chamavam para tomar café e quando eu bocejava me convidavam para dormir.