terça-feira, 15 de dezembro de 2009

poema sobre o verdadeiro olhar embrigadado

lúdico é o falso olhar embrigadado
que com falsas impressões admira e venera o não exiastente
e achabonito o não frequente
triste é o o olhar embiragadao
que com cameras e flashes tenta
em vão
registrar o mágico momentot da embriaguez
que com flashes e flashes tenta etenta e gregistrar o momento
Oh nobre ommentgo que nao vonsegue ser registrardado o o tal momento
Oh olhar embrigadado
este é o vedadeiro olhar embrigadado

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

poema sobre o olhar embriagado

triste é o olhar embriagado,
que com o peso dos olhos vê o todo entortado
atordoado de prazer.
todo sentimento é pouco,
toda vida é o bastante
e o agora é louvado a ponto de deixar-se de lado
o porvir e o amanhã
afinal,
a quem pertence o amanhã?

é tudo e agora.
depois é outrora
e outrora não passa de uma outra hora
que só chegará depois da hora de agora,
e depois de agora
a embriaguez,
talvez,
não esteja mais latente.

quer-se,
apenas,
o presente,
e o presente é amor, torpor e tesão.
todo sentimento é pouco
e não-silenciado,
lindo é o olhar embriagado.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Poema para a Pequena Grila

Houvesse o fado impregnado em nós,
houvesse o mar,
houvesse amor e tudo que é de sonhar,
um pouco de luz...

Houvesse suor, teor, pudor
Saberíamos que voar com nossas pernas é dispensar asas,
pobres asas.

Grila, pequena minha,
penduro em tuas pernas e voemos por aí.
Voemos, voemos...


houvesse nós.

sábado, 14 de novembro de 2009

registro.

São 5:58 da manhã. Acabo de chegar da casa do meu amigo, onde ficamos, com outros amigos, absolutamente até agora discutindo sobre a lei que proíbe uma mesma pessoa de cursar uma universidade pública. Nesse exato momento a música que botei pra tocar acabou e encontro-me debruçado à janela, sem camisa, ouvindo pássaros, latidos e barulhos de carros enquanto privo-me desta vista maravilhosa para registrar nesse caderno antigo o momento até então pronunciado. Quantos pássaros ainda existem! São tantos cantos como num côro, mais afinado que os mais conceituados gregorianos. Mas não é por isto que proponho-me a tal situação: A questão é maior. Estou aqui, escrevendo isso, para, não sei para quem, registrar que eu estou feliz. Eu estou vivendo. Conversar com amigos até o amanhecer, ver o lento caminhar do nascer do dia – ainda que sem a utópica imagem do sol nascendo por detrás do oceano, mas com a ainda assim magnífica imagem das poucas e arrastadas nuvens no céu por cima da montanha, ainda que com suas antenas... – estar e ser apaixonado, sentir uma razão pra viver, sendo este penúltimo verbo a principal razão disso... Ainda que o amargo gosto do álcool esteja no fundo da garganta, seu efeito no sangue, agora, é nulo. Sinto todos os sentimentos do mundo por pura lucidez. Precisei eu de tantos e tantos afogamentos para saber hoje em que mares me afogar. Estou prestes a ir para Buenos Aires com meus recentíssimos amigos mas a sábia coincidência fez com que um de meus antigos e grandes amigos estivesse lá também, nos mesmos dias, como que para lembrar-me de uma importante questão: “Vá, mas não se esqueça de voltar aqui. Sempre estaremos te esperando”. Me sinto feliz porque me sinto amado e porque amo demais a todos. Muita gente é importante pra mi e vejo muita amizade surgindo com o nascer do dia. Sinto minhas antigas amizades cada vez mais forte. Sinto meu namoro cada vez mais forte. Sinto-me cada vez mais dependente das pessoas, sinto-me cada vez mais dependente de amar. Que eu ame, que bicho for, pro resto da vida. Eu estou vivendo. (06:16 am)

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Vai, menina...

Quis ser, foi e foi. Saiu por tudo com vontade tamanha que se surpreendeu em como aquela energia tão grande coube, por tempo, em tão pequeno corpo. No instante seguinte, lembrou-se de certa frase lida em qualquer livro qualquer: “Meu corpo vai até as estrelas”. Riu. Tudo havia brotado tão fortemente nela que até segurança sentia. Pra aonde ir? Pra aonde for, pra aonde a levassem. Freedom, liberdade e chega, não era muito de línguas, apesar de depois ter se lembrado de liberté e libertad – todos têm isso de pensar o quiser de si, falar pra si próprio o que quiser ouvir e acreditar no que desejar acreditar. Tinha muitos amigos, todos queridos, mas uns novos, repentinos e completamente diferentes fizeram-lhe ver outro lado das coisas. O lado do acaso, do de repente, do que é marcado por vontades fortes – e por que não inconseqüentes -, e de intensas paixões momentâneas – e por que não vazias. Viu tudo isso e não soube aonde se encaixava e nem se havia nascido pra essa vida. Porém, admirava – e por que não invejava – tal filosofia e resolveu, copiosa e propositalmente, mudar e viver aquilo que temia ou hesitava. Mas calma, menos pressa, as coisas mudam, às vezes pra melhor, mas sempre gradualmente, e ela tinha acabado de dar sequer o primeiro passo... Do seu jeito, mas sim um primeiro passo: Resolveu escrever, em caderno velho e em terceira pessoa, que quis ser, foi e foi.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Esquecer.

Meu Deus, o que está acontecendo? Quando menos esperei me encontrei numa festa! Sim, muito animada, e as pessoas pareciam não me notar! Que roupa esquisita que estou usando, toda branca, nunca fui disso... Estranho. Os rostos são todos familiares. Meu Deus... Lembro-me exatamente de cada um! Amigos, familiares, grandes pessoas que me fizeram ser o que sou – ou o que era. Alberto, Clara, João, Tutu, Gago, Horácio, Arlinda, Carmélia... Quanta alegria... Quanta tristeza. Que saudades enormes, que vontade de chorar cascatas, que vontade de voltar tudo, de rir junto e alto pela última vez, de dormir feliz, de beber cerveja, de jogar truco, de abraçar, de dançar, de embriagar, de madrugar, de sentar e sentir cansaço após muita brincadeira... Minha vida toda ali: As pessoas que me marcaram, que me criaram e que me determinaram, todas ali – minha vida. A música toca alto, elas dançam e conversam, exatamente como eram nossas festas, mas não ouço as palavras. Cinema mudo. Cores, flores, saltos, traços, antigos, amigos, vida, perdida, tempo, memória, saudade, vontade. Quero e não quero sair dali. A curiosidade é maior, sempre foi, e por ali permaneço até o instante em que, enfim, cai a primeira lágrima. Abriu a porteira. Choro, choro e choro até não poder mais. Meus olhos agora estão vermelhos e inchados, o nariz deixa escorrer ranho pela boca e o paletó branco vira guardanapo – ou toalha. Preciso enxugar, estancar aquela lágrima-sangue! Minha vida esteve diante dos meus olhos e, como reprise de como ela prosseguiu e terminou, derramou-se como cascata – enfim consegui - pelo meu rosto enrugado pela velhice e pela água. Foi muita tristeza para mim. Fiquei realmente incomodado, chorei horrores e não conseguia parar, fechei os olhos por minutos para forçar o cessar das lágrimas. Funcionou. Quando voltei a abrir, nada mais estava lá, agora era só eu naquele salão desconhecido enorme e vazio, sujo. Os vestígios de serpentina, marcas no chão, bebidas derramadas e garrafas vazias denunciavam o que havia acontecido ali. Imaginei estar escrito na entrada do local: Festa Vita. Chorei de novo: Lembrei que Lindonéia não esteve por lá. Será que ela apareceu bem na hora que fechei os olhos para secar o rosto? Claro! Como fui estúpido! Perdi meu amor pela segunda vez, isso já era demais. Por que ela não veio falar comigo? Não, ninguém me via e eu ainda estava com o rosto coberto... Perdi. E agora, para aonde ir? Não vejo portas nesse salão, apenas janelas grandes que dão para um grande precipício. Quando eu falo precipício, quero dizer o que a palavra realmente diz. Um enorme buraco, sem vista para o fim, sem vista para o horizonte, só esse salão solto e suspenso no ar. O próprio abismo deu o pequeno empurrão que eu precisava: Me atirei.

sábado, 4 de julho de 2009

queria criar o novo
pensar diferente
escrever palavras novas
ser mais feminino

queria melhorar
deixar essa parte lixo de mim
que pensa mas não fala - ainda bem

corro em vez de andar
e minha pressa é egoísmo
não sei nem se quero mudar
de tão gagá que eu sou

meu mundinho há de mudar

quinta-feira, 28 de maio de 2009

essa ausência de cerol
corta meus nervos de aço
e, com o tempo,
a dor já não rasga tanto.

enfurece-me essa triste adaptação
que transforma a merda numa não tão merda assim
fazendo-me achar que isso não é tão ruim

e vêm então aquelas visitas à longa distância
e a ausência parece congelar-se com a imagem dela,
entretanto, ao sentir a tela vem-me a raiva de
realmente haver um mundo e um computador entre nós.

maldita tecnologia
preferia eu escrever e receber cartas
tão mais íntimo que uma foto três por quatro
em tempo real!

nela, pelo menos,
eu teria a certeza de que estamos longe
em vez de tentar ficar me convencendo
de que estamos há um palmo de distância.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

oração

Calma, amigo, vai devagar que o tempo é querido. Ele o espera para, apenas, ver-te nos momentos mais gloriosos da vida tua. Se chegar a noite e teu telhado te impedir de ver as estrelas, fecha os olhos e as veja uma a uma, rezando baixinho à qualquer deus que de dentro de ti viver - se viver - pedindo que esteja contigo para qualquer possível revés. Porém, querido, vai devagar que o tempo é amigo, mas carrega consigo um coração de doces costumes, vícios e mimos, ele vai te querer a qualquer custo, o levando pelos pés quando não te vigiares ao jogar a cabeça ao vento.

Portanto, tempo, vai devagar que meu amigo é querido. Ele apenas se exastou percorrendo quilômetros de vida de chão batido com pés de anjo, doces e virgens. Ajude, por obséquio, a este próximo irmão que já cogita a desregra como espírito e questiona por vezes a bondade em ti presente. Saiba que seguidas feridas foram marcadas a ferro e fogo, em carne viva, em seu pálido corpo. Mostre-o aonde ir, mas não ame-o demais para que, possa ao menos uma vez, jogar a cabeça ao vento e fechar os olhos devido ao ar forte, sem ter que segurar os pés.

domingo, 10 de maio de 2009

sábado morto

quero me enforcar nos teus cabelos!

quinta-feira, 7 de maio de 2009

o deus e adeus

Boio e balanço nesse mar, brinco com a água e os peixes, remo pra não chegar e chego pra não descer. Quando quebra na praia é bonito, quando traz sempre novas conchas que decoram exaustivamente esse meu jardim amarelo é perfeccionista. Quando faz música nos ouvidos soa bossa, quando molha meus pés é analgésico e quando esbraveja nas ondas é amor materno. Quando se encolhe ao anoitecer é cacique, mas quando estende-se numa manhã ensolarada é recém-nascido. Quando chove e enfurece-se é adolescente mimado, mas quando vem a calmaria é o mesmo apaixonado. Quando me leva é homem, quando eu chego é mulher, o deus e adeus me navegam: só hoje descobri.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

clareia minha vida, amor, no olhar.

Passar um dia em preto é não rir espontaneamente uma vez sequer, não brincar com um cachorro de rua qualquer e não trocar os estudos pelo violão por minutos suficientes para viajar numa música. Não beijar a vó, não sentir a mão da pessoa amada e não refletir enquanto um pão de queijo é mastigado. Não cantar uma bossa com a sobrancelha franzida, não berrar um grito prensado no travesseiro, não ficar com calor.
Clareia, clareia...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

ordem e progresso?

Vamos nos controlar.
Moderação.
Vamos nos descontrolar.
Permissão.

E assim vou trocando as coisas e fazendo tudo na hora errada.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

caminhando e cantando e seguindo a canção

Chico, dê-me só os acordes que a melodia eu faço, tá aqui, sempre esteve. Sambo em cada esquina, estralando os dedos e rindo só pensando que música linda estou fazendo! Canto alto no meio das ruas enquanto os outros, estranhos, olham-me com olhar distante, indiferente. Nem triste fica quem não canta pelas ruas - porque a tristeza é linda demais para não ser cantada e cada sentimento tem sua melodia e seus acordes menores - ficam apenas sem expressão, não sei se pelo êxtase do momento ou por serem mesmo do jeito que os vejo. E assim, no auge do show eu tento voltar para a introdução e me perco, me esqueço, me atrapalho... outro samba perdido! Corro pra casa, pego o violão e puxo acordes perdidos, sozinhos, tentando resgatar aquela melodia leve, linda, mas não tem jeito: nunca mais ouvirei aquela música. Queria eu ter o dom de lembrar das músicas que fazemos enquanto andamos - pois sim, todas as músicas do mundo são feitas enquanto andamos - e assim chegar em casa e passá-la para o violão para, posteriormente, poder contagiar os outros com a minha felicidade. Chico, Caymmi, Caetano, mais espertos que imaginamos! Caminham com o violão na mão para não ter erro! Assim fazem Pedro pedreiro, Samba da minha terra e Menino do rio: andando, compondo e já passando para o violão para depois me fazer rir numa tarde perdida.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

um, dois: nós

te amo por fazeres de mim e de você: nós.   

terça-feira, 7 de abril de 2009

o outro lado

é sonhando com coisas ruins 
que se pensa nas boas,
afinal,
como desviar o pensamento
depois de um pesadelo?

segunda-feira, 2 de março de 2009

osteogénese imperfeita

É de cozir lento o ovo da alegria
E fogo baixo é muito para tal operação
Uma chama a mais e ele se rompe com o grito da tristeza
Que lá de dentro ecoa com amplificação.

Bom mesmo seria um lampião
Que só com luz
Esquentaria em prazo estendido
Esso ovo de paredes de vidro
Deixando reinar nossa rainha Alegria
Que com confetes demarca os limites do feudo
E com sorrisos alimenta os servos
Para que não passem fome ou tristeza:
As piores das doenças.

Assim então
Quando cozido nosso ovo estiver
Ecoarão os gritos
E os vidros estilhaçarão
E os confetes
Com a ventania se dispersarão
Os sorrisos
Com a fome se fecharão
E a nossa rainha
Derramará seu pranto sobre a luz do lampião
Pois tristeza não tem fim
Felicidade
Sim.
Escuridão.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

da série: crônicas escrotas por falta de inspiração.

Era num elevador, de tarde, num dia ameno. O rapaz entra e encontra a irmã da amiga de seu irmão, que por uma ou duas vezes já entrara em sua casa, pedindo licença, sendo educada, e que já trocara uma ou duas palavras com ele. Exato, aquela pessoa que você menos deseja encontrar num elevador: Alguém que você conhece  a ponto de ser obrigado a puxar um assunto, dar oi, enfim. Pois, lógico, torcemos todos para que seja ou nossa namorada, ou melhor amigo, pai, mãe, e até melhor: desconhecidos, os quais você só precisa se preocupar em segurar uma possível flatulência - caso uma feijoada ainda em digestão tenha armado uma barraca na sua barriga. O jeito é pensar que o momento durará no máximo 30 segundos. Olhar no relógio não ajuda.
- Oi...
- Oi...
- Tem visto sua irmã?
- Minha irmã!?
- Meu irmão.
- Você falou "minha irmã".
- Como eu falei isso? Lógico que você anda vendo sua irmã. Quis saber do meu irmão, se você tem o visto.
- Ah, sim... estudamos juntos né.
- Aham...
3  segundos de silêncio, ele tenta de novo.
- Tá quente hoje, né?
- Não achei...
- Pois é... hehe
Abre a porta.
- Graças a Deus.
- Oi?!
- Nada, é que sempre tenho medo que ele pare. Hehe, tchau... manda um beijo pra sua irmã!

E assim foi.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Alzheimer

O ciclo inverso: velho que vira bebê. A loucura de uma lógica imperceptível. Ver esse processo é tão assustador quanto temê-lo, sabendo que por forças genéticas a escapatória para isso é improvável. Convivo diariamente com esse desaprendizado gradual e lento, mas que com ferocidade destrói a facilidade de fazer as coisas mais simples, aquelas que fazemos desde os primeiros meses de vida. Os mais resistentes, desaprenderão a andar, depois, a comer, depois, a urinar, depois, a abrir os olhos e por fim, a respirar. Desejo, sinceramente, ser o menos resistente possível.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Quando eu passei no vestibular.

Foi há sessenta e oito anos, no auge dos meus dezessete e das alegrias de um menino saudável, alegre. Recordo que os dias que antecederam meu momento de glória passaram-se arrastados, tão demorados quanto o meu trajeto, hoje, daqui até a cozinha. Meu sono era perseguido por meus pensamentos ansiosos e intrigados, num segundo a certeza, no outro o pessimismo, mas agora, o dia havia chego, e eu tremia quase que feito um idoso rendido ao Parkinson. 
Não me lembro exato da hora em que saí de casa e do trajeto de carro até a universidade, mas lembro o quão ansioso fiquei quando saltamos do carro. Quase ninguém estava por lá e cheguei até a pensar em estar enganado, sobre o dia, a hora ou até mesmo o local da reveleção dos classificados: como que poderia ser em outro lugar?! Uns cinco minutos de caminhada até o local exato me fez aliviar por não estar errado, mas logo depois o alívio transformou-se em suor. 
Estava ali, na frente do ginásio onde seriam divulgados os nomes. As portas fechadas, mas os nomes já dispostos pelas paredes de tijolos a vista. Lembro de levar a mão ao peito e senti-lo esmagado pelo meu próprio coração, que pulava e se contorcia como se tivesse mais nervoso que eu: impossível. Quando senti aquilo, uma vontade intrínseca de chorar me veio, e por um instante eu chorei mesmo que sem lágrimas - meu rosto já estava salgado demais. Minha prima, que fez questão de vir ver o resultado conoso - eu e minha mãe - , me abraçou e a vontade passou meio que por vergonha. 
Podia ver que aqueles que estavam quase que de cara com os portões do ginásio, conseguiam por instantes entreabrir a porta de madeira, que visivelmente era segura apenas por um pedaço de madeira que a deixava trancada - lembro que toda vez que faziam isso eu esboçava uma corrida. Assim, depois de algumas tentativas, alguém, de camisa verde, botou o braço por dentro e levantou o pedaço de madeira. Os portões se abriram. "Pode entrar, galera!", decretou o arrombador. 
Ao ver a pequena multidão de umas cinquenta pessoas correndo, só me restou correr junto. O trajeto era pequeno, de uns 20 metros, e para um jovem de dezessete anos fiz aquilo em torno de 20 segundos. No caminho olhei para as paredes de tijolos a vista e pude ver aonde estava disposto o meu curso. À esquerda, mais ou menos no meio do ginásio. Raciocinar e correr não era muito complicado, por isso não titubeei e lá estava na frente dos dois papéis - um para cada fase. Comecei pela primeira, mesmo achando que fosse mais improvável e por um lapso fui direto ao meu nome, como se todos os outros fossem dialetos do sul da indonésia, e foi só ele que, naquele instante, pude ler. Alegria, alegria.
Olhei para trás, levantei os braços, berrei e corri direto ao abraço de minha mãe. Chorávamos e nos agradecíamos num momento de transe. Um choro soluçado, de criança, de alegria, alívio e emoção. Passei, acabou! Corri para o lado de fora e abracei com a mesma força meu amigo e minha namorada. Ovos, farinha, tesoura, meus cachinhos todos no chão. Eu deixei, óbvio, podiam, agora, me fazer de gato e sapato que eu não estava nem aí. Eu havia passado e, embora meu ano não tivesse sido inteiramente dedicado aos estudos, grande parte deveu-se sim a eles, às pressões, às expectativas e a tudo que aquilo envolvia. Estava satisfeito comigo mesmo e sabia que, a partir de agora, outros momentos de glória me esperavam, mas primeiro eu precisava festejar e muito esse que se passou.

sábado, 3 de janeiro de 2009

O coração do homem-bomba

Dez minutos de vida. O pouco que sobrou de seu coração pulsa freneticamente como dois martelos em ação, um em cada lado da cabeça. Fecha os olhos e tenta, pela última vez, se convencer de que a sua vida tem uma razão: aquele momento. Mas, também pela última vez, lembra de outra vida que podia ter tido, mas é outra, não essa, já foi, tarde demais, embora teria sido bom de outro jeito. Um gramado verde e extenso, quase infinito, um chalé de madeira e um jardim florido, muito florido - era ficcionado por flores, embora não pusesse isso à vista devido à vergonha -, quatro crianças, produtos seus, correndo e divertindo-se com um, dois ou quem sabe três cachorros. Teria sido legal, diferente, fantástico. Suspira.
Mas, o coração do homem-bomba não bate sempre por sentir vontade, e sim pra sentir saudade. Saudade da vida, de bater, martelar, viver. É um coração disciplinado e racional, racista, inconsequente** e burro, fútil, mesquinho, treinado. Sim, treinado, pois haja treino pra fazer um coração desamar, dessentir, "desviver". É vida de gado, boi marcado, e um  sentido fascinante: nada.
Volta a abrir os olhos, vê todos aqueles civis e pensa quantos daqueles deixarão de ser e existir por causa dele mesmo. Imagina aquela senhora caída com as pernas mutiladas, a outra criança dilaçerada e o olhos daquele cego que atravessa as ruas, fechados para sempre. Mas sim, está decidido, terá de ir enfrente. Não desistiria agora. Ou não!? Fugir?! Como?! Olha e pensa nos comparsas, também decididos, lembra de uma floresta que tem a poucos metros, correria até lá e se esconderia até o anoitecer e, após isso, fugiria para outro país para recomeçar. Parecia uma boa saída.
Os comparsas o chamam, ele olha para os lados, começa a correr muito, como nunca, em rumo à floresta mas lá no fundo pensando no seu jardim. Os comparsas correm também, indignados com a atitude do miserável traidor barato e infeliz, mas, lá no fundo, agradecendo por ter uma desculpa para o plano ter dado errado, quem sabe assim sobreviveriam! Correm uns duzentos metros, a floresta não chega, nosso protagonista volta à civilização para tentar se camuflar no meio da multidão e quem sabe escapar. O plano falha e os comparsas estão a poucos metros dele. Um deles estica o braço, agarra o colarinho da camisa já suada do traidor, este vira para trás para tentar se soltar, esbarra naquela senhora - aquela, dos pés mutilados, lembra? - e cai...  bum.




**tremas não existem mais, não é culpa minha!