terça-feira, 28 de dezembro de 2010


tomou-se a frente o mundo
e tanta terra separa a gente
nosso canto só ecoa
pelos montes que alcança a vista
aqui são todos brancos e cantam tímidos
como cantam nossos ecos essas montanhas daí, menina?

não vejo a hora do quarto de hotel
do tudo que vem e do que me espera quando contigo estiver
e aí varamos o mundo de esquina em esquina mirando atentos e sarcásticos
o mesmo mundo que tomou frente ontem
então sorriremos alto, alcançando os arranha-céus
e o olhar mais sincero de espanto, descoberta e euforia
nos tomará no mesmo segundo nos fazendo gritar:
- Ele gira! Ele gira!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Todos falam... a distancia eh pouca, curta, seca. Eu me flagrei quieto, acompanhado somente por tudo que me afasta ainda mais, se eh que isso eh possivel. O meu amor, por instantes parece inexistir, flu-tu-ar na nevoa que atrapalha a visao mais proxima possivel. Por que sempre tem que existir um? Ta tudo bem, ta tudo otimo... Nao pra um. Por que essas coisas classicas existem? Pra lembrar que temos familia? Que viemos de algum lugar? E se nada disso existir e meu dia foi soh mais um? Aqui escurece cedo e nao muito tarde estou a dormir. Sonho com coisas que vejo e nada mais vejo com toda essa nevoa! Meus sonhos sao adivinhacoes do que eu poderia realmente estar vendo, sentindo, sonhando. Adivinhacao barata, tendenciosa, subornada. Tudo entao fica assim... Na tristeza mais pura e sincera que o homem consegue alcancar, no silencio mais constrangido que esse momento permite, na falta de palavras, de olhares e de toques que o excesso de espaco e ar entre a gente pode causar. Tudo causa tudo e aqui, nessa altura, esse segundo tudo tem tamanho abissal.


24/12/10
6:47pm
pc, ut

domingo, 19 de dezembro de 2010

corre, vadia

Minha alma corre, lenta, frouxa, mole e trouxa, atras de mim. Eu quero ir adiante, eu sigo adiante e ela vem, va~, pra ca... Ah como demora, quando ela corre afora e ja cheguei ao fim. Eh quase um segundo, moleque e fundo, que me sinto atras de mim. Sensacao vagabunda, preguicosa, que faz rir e rir. E esse riso eh olho longe de quem por tais certos montes ja topou. O mais e mais gostoso da vivencia eh sorrir e mais vicia quanto um colo-mae da tia ou almoco de domingo. Domingo eh hoje... e hoje eh dia... agora noite... outro dia

domingo, 28 de novembro de 2010

pane

Terrível foi quando, por um deslize, deixei com que a imagem do rosto dela se perdesse misturando-se com outras parecidas, de outras mulheres conhecidas e às vezes não, como que num golpe da própria mente em vingança a pensamentos sádicos ou mesmo por falha do sistema devido à grande demanda que aquele rosto comprido, fino, branco, liso e perfeito causava. Essas coisas acontecem...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

?

O cachorro late... muito estridente, muito agudo, muito insuportável. A menina diz: Silêncio!
O bebê chora... muito estridente, muito agudo, muito insuportável. A mãe diz: Se continuar chorando, eu nunca mais te trago aqui.


São os tempos... e o que está em alta: a comunicação. Nada como a comunicação!




Ruarr! Rawff! Hilicioso, grerguenho, tróvigos, grúmijos, pélapos...

sexta-feira, 19 de novembro de 2010


monólogos a dois
dis - tân - cia...
olhos fechados
a-diálogo, inconversa

houve o tempo
em que se ouviam
era amor
era novo
era Roma

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

o que será que será?

dá canseira

mas é boa
ah, como é

é o balanço do mar
é o vai-e-vem
que sequer enjoa
quero mais, meu bem!

pra lá
pra cá
hihi
haha

como tudo é lindo e azul e lá fora tá calor mas desculpa, amor, acho que já vou dorm...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

força

Como eu quero... Quero tudo. Quero a mais linda música que chegue o mais perto possível do que sinto. Como um som tem a capacidade de nos fazer isso? Há muitas músicas por aí... Quero todas. E quero as minhas também! Parece que todas têm algo do que quero dizer, mas sei que muito é só meu. Quero o meu também. E mais: quero o nosso. Nós. Quem quer que sejamos nós. Amigos, amores, amantes, pais, avós, todos vocês que. Todos vocês que. Mas falta, falta algo! Tenho quer sair por aí... Como tanto fizeram. Sábias decisões! Não sei o que me espera na estrada... Estradinha, na verdade, só pra começar. Mas hei de descobrir mais um pouquinho. Estou perto... por enquanto é a confusa gostosa triste melancólica sincera sensação da nostalgia. Nostalgia e melancolia. É a saudade. É o que há entre as pessoas... É o que há em mim. To indo, to indo.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

carta

aos ratos a minha existência
tudo que abrange e circunda
perdoe a falta de zelo
esse não é meu lugar

que digam que sou egoísta
que chorem os mais altruístas
pois tudo em volta me canta
com vozes de mais puro espanto

tudo é grande demais
e sei bem meu tamanho
vejo os que dormem na lua
e os que mordem nas ruas

minha existência não pode
todos já sabem de cor
esses que plantam e colhem
sempre um mundo pior

deixo alguns
corro pra mim
vou para o fim, para o fim
é a largada.

sábado, 30 de outubro de 2010

meu livro

quantas folhas
em branco
restam?

tantas histórias
tantas perguntas a
serem contadas
ou vomitadas

o livro que levo
caderno de mim
é simples assim:
espaços cegos

paredes do lado de dentro

todos
têm
telas
tristes

todos têm
telas tristes
todos eles
todas elas

telas que dizem
"mais do que nunca
é preciso prosseguir"
e daí?

da vida
só levo a descoberta
tarde e incerta
de que todos têm telas tristes

todos eles
todas elas

telas que nascem
ao longo dos dias
sobre a mesa do jantar

da sopa quente e úmida
ao vômito ácido e colorido
nossa tela vem surgindo
que lindo! que lindo!

pingos são cuspidos
nos fazendo rir
mas tudo se acerta
ah, tempo querido...

todos
têm

telas tristes pesam nas paredes do lado de dentro.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Ócio

É o ócio das férias que cresce na mente um "não quero nada" e joga pro corpo uma bocejada. As tardes, cumprindo seu papel de tarde, demoram a passar fazendo-nos sofrer, deixando o horizonte cada vez mais longe e uma grande vontade de deixar acontecer. Que tudo aconteça, que nada interfira, que a vida vá mais longe do que essa minha esquina porque eu estou aqui e há ainda mais: estou muito bem aqui. Falta-me porém, a chave da criação... a circunstância primária, a mais simples condição... ah, aí então expandiria... Silêncio. Aqui não tenho silêncio. As portas latem, as pessoas latem, os rádios latem, as televisões latem, os carros latem e meu cérebro reluta em não latir. Silêncio para o violão, silêncio para a meditação, silêncio para a reflexão, silêncio para escrever o que dizem minhas mãos. Não os tenho. Ócio imprestável.

sábado, 9 de outubro de 2010

viver é um contorno
ninguém sabe o que é morrer
morrer é um contorno
ninguém sabe o que é viver

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Festamizadevida

viva a festa bem vivida
todo brilho que transpira
entre tudo que inspira

ar que me leva até lá
te leva até e nos leva a
momentos tão bonitos de guardar

vamos dançar e cantar a vida de olhos fechados
vamos experimentar o toque do outro inesperado
vamos sentir ao chão o céu que nos reúne
e sentar ao céu no chão de nuvens

hoje é dura a vida e queremos esquecer
hoje dura a vida até o amanhecer e viva
viva, viva
viva a festa bem vivida!

como é bom estar com vocês
como é bom sermos nós
cantemos a força da força que
nos abraça todo mês



ao amigo aniversariante Ricardo e a todos os outros.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

nordestino peregrino

pela vida
pelo mar
caminhada esquecida

onde fica,
Janaína,
meu lugar?

tanto andei
tanto chão
terra seca mãe do Rei

onde vou
com meus pés
pelas mãos?

de chegar
e cantar
e beber
e chorar

de partir
e sorrir
e contar
e mentir

nordestino peregrino
bamboleio por aí
sei de mim
só de mim
e de tudo que já vi

sábado, 18 de setembro de 2010

quando

Eis que num sábado meio domingo penso no dia que clama por vir. Tudo é do tempo, tempo, tempo, tempo, tempo, tempo... Tudo que fica, tudo que passa, vida desmancha tamanha desgraça. O que me some, o que me chega, o que me envolve às terças-feiras e que na quarta, nunca na quinta, já se destoa diante de mim. Sempre é o dia, de amanhã, que nas esquinas da vida persegue um plebeu como eu. Tanto cabia, nesse momento, tantas palavras, quando me ausento, que já são muitas saídas, já que há tanto revés... Revejo meus pés e lembro: ainda estão comigo! Vivo, vivo! Porra! Tô vivo!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

quinta-feira, 29 de julho de 2010

diário de uma viagem [4

É lindo isso. Essa sensação de falta de tempo quando penso em tudo que posso criar. Ouço minhas músicas, leio meus textos, meus projetos de livros, minhas ideias de possíveis filmes e chego a ficar com a respiração acelerada. A arte se espreguiça por dentro de mim e se estica até não dar mais. Ela quer levantar, quer acordar, quer viver. Deve ser, decerto, ser isso o que me move. É agora, dentro de um avião de plástico, mais pra lá que pra cá, com nuvens espalhadas em pequenos blocos e uma terra verde escuro com sombras escuras destas mesmas nuvens que cobrem minha vista, que essa necessidade de arte toma conta. Lá no fundo mora uma ideia de mudar as coisas ao redor. Olho pra mim, pra minha capacidade de criação, pra capacidade das pessoas ao meu redor, e não consigo acreditar que somos piores que muita gente que tá por aí. É se reunir, tomar cerveja, conversar, tocar um violão e a vida vai saindo... Na última dessas a música que saía espontaneamente cantava: “Segunda-feira, pra juventude, quem disse que hoje é dia de se organizar? Segunda-feira, de madrugada, anteontem essa hora eu tava no bar...”. Éramos três, e lembrávamos de como a bossa-nove surgiu, de um grupo de amigos que se encontravam para beber e tocar, compartilhar músicas próprias, inventar um novo jeito de tocar... Sonhamos, sonhamos e a vontade de arte que a juventude nos doa batia latente no risonho coração embriagado. “Tudo se resume a isso, meu caro...” É isso o que todas essas coisas me sussurram muitas vezes... porém não o suficiente pra que se torne ainda verdade em mim. “Eu queria ser artista pra poder fazer o que eu quiser”, “Não posso com o fogo do meu querer, não posso não”, “E é tanta coisa no mundo pra se conhecer, que eu não sei se na minha eu vou ter tempo de viver”, “Até quem não veio pra ver, verá”, “Sinto saudade do que já não é verdade”, “O pensamento nos dá oportunidade de ir e voltar”...

segunda-feira, 26 de julho de 2010

diário de uma viagem - carta ao tom 47 [3

Na nostalgia da madrugada, mal-iluminada, após um bom filme visto. E é justo agora, a essa altura da vida, do tempo, da hora, que tudo que é meu me vem pelas mãos. Ou tudo que eu gostaria que fosse meu. Um bom filme, uma boa música, uma linda recordação de algo que já não é - mais - verdade. Aquele tempo, ah aquele tempo... Calzone ou buffet? A moreninha ou a clarinha? Tocamos essa ou aquela música no próximo ensaio? Vídeos engraçados e espontâneos feitos pelo celular, nenhum sonho de ser famoso mas um simples deleite por puro prazer, por puro hormônio correndo em todas as veias, por puro "deixa o vento bater na cara". O que é mais longe? Daqui praí ou de Floripa praí? Não sei, cara... Parece que a vida resolveu separar - com ajuda tua, claro. Não vou dizer que não há rancor, e não verdade nem há, aliás o que existe é uma puta raiva pra falar a verdade... Porra! A gente tá tudo aqui... Por que ficar aí? Por causa desse amor, né? Mulher só fode mesmo, digo, só nos fode, pra não confundir. Elas nos fodem, cara... Nos fodem e nos fodem. Por que é do que a gente mais precisa no final das contas. Mas não sinto raiva delas, sinto muito amor - e tesão. Espero que ela cuide bem de ti, o que está parecendo quando vejo tuas caras de babaca nas fotos... Mas é aquele babaca de boa. Tipo um desses maconheiros pelas ruas, saca? É bom te ver feliz, velho. Mas nem pra te dar um abraço essa felicidade adianta... É uma pena. Te amo. Abraço muito forte... E aquelas risadas... - sinto-as ecoando pelas paredes no escuro...

domingo, 18 de julho de 2010

diarios de uma viagem [2]

Eh engracado como tudo sempre se resume a uma pessoa. Tudo mesmo. Todos meus pensamentos, meus sonhos, meus delirios, referem-se sempre, no final das contas, a uma pessoa. Me assusta? Talvez, um pouco... essa imensuravel duvida da minha certeza de que essa pessoa morara ate o fim dos dias nos meus pensamentos, nos meus sonhos, nos meus delirios. Quero tudo o que eu mereco, quero tudo o que ela merece, quero que nossos sonhos caibam nas nossas vidas e que a vida nao seja melindrosa com quem ama demais. Cabe ainda, nesse mundo, gentes que amem demais? Ou os que nao amam continuarao a corroer os romanticos? Os romanticos sao tao fracos assim? O que falta para esses mesmos sacarem das calcas de couro dois revolveres e atirarem no peito daqueles que nao amam? Falta coragem? Falta rancor, desamor, desesperanca. Fico, por enquanto, atras de um colete a prova de balas.

sábado, 17 de julho de 2010

diário de viagem [1]

De novo me encontro na estrada. As ruas mostram placas de uma outra língua, de uma outra visão de mundo. Capitalista? Pragmática?
Tudo bem, concordo, mas como visitante devo reconhecer o serviço do Estado em cada pedaço bem cuidado de estrada, em cada árvore de cada bairro, em cada... Enfim.
No rádio do carro uma música canta "I've got the world" e ainda diz mais: "Life is beautiful"... De fato? De fato! Vejo colinas pelo horizonte que nunca vi,
vejo planícies de uma mata seca, desértica, que me faz pensar sobre o tamanho desse mundo, dessa natureza, desse deus - e não de mim ou do meu pau.
Por falar em mim, pelo reflexo dessa tela de computador móvel (essa criação nojenta) enxergo um rosto de um cara - um homem, uma criança, um mentiroso,
um sincero e todas as contradições que o ser alguém remetem - de barba por fazer, testando até que ponto consegue sair de si e desvencilhar-se dessa coisa selvagem
que é chamada vaidade - ao mesmo tempo que veste roupas recentemente compradas: São tantas as contradições... A música muda, agora quem canta é João Gilberto.
Ah... que saudade da minha língua. Não essa mordida, queimada pelo café... a brasilleira, porra!
As palavras são lindas, os fonemas perfeitos, a complexidade de uma visão de mundo que nos permite pensar, pois a linguagem permite, limita e cria oportunidades
para o pensamento - embora essa relação não seja unilateral.
Isso tudo me traz, um pouquinho, de volta para o meu país, para o meu lugar. O tempo nem é tanto, mas eu sou daqueles que chega uma hora que o saco enche e até transborda de ficar tanto num lugar diferente do meu.
Mas esse momento ainda não chegou. Ainda tenho muito para ver e para delirar nos pensamentos sobre a minha vida e sobre as vidas que amo e que se encontram bem longe de mim.

método luquinista

Quero que as palavras saiam uma a uma involuntariamente ou inconscientemente e se juntem formando uma frase inesperada.
Não uma frase que me sirva de doutrina, não necessariamente uma rima ou, por momento, um mandamento:
uma frase estética isenta de ética, dialética, mas lindamente esquelética, frenética, epilética, roléica, pastéica,
jeitética, servélica, querénica, vivértica, mengrélica! Prostrando gruminhosamente uma yorse sefininda, e jorgrenhando komenó salim trequismo infenilente.
Jovim! Jovim!

brain-storming [1]

Hoje de manhã eu acreditei ser quem eu não sou.
E parti e toquei a correria achando que a mentira nunca me atingiria.
Por que atingir um mendigo como eu? Quem sou eu se não um porco gordo que combina as palavras uma atrás da outra como fila de elefantes?
Que ser idiota faria isso? Eu... Eu acredito haver mais que fotos e gorjetas frescas e pitorescas como a calabresa que almoço numa taberna alienada.
Hoje, combino as palavras uma atrás da outra sem ter tempo de respirar. Espalho-me uma a uma para que possa, ao fim, exercitar.
Meu esporte é o de fazer aquilo que não combina, aquilo que desrima, aquilo que destoa e que tinge uma broa de pão de velho. Broa, broa, boa... Voa, mãe, voa!
Vai ter que dizer que nada de gula de mentalizar umas fulas ideias é gaguejar. Quem gagueja pestaneja! Amarela cor de sol que me doura: corroa minhas couraças antes que meu ombro se encolha!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

fortaleza senil

meu quarto é meu forte
canhões alojados
em determinados espaços
intimidam qualquer amigável invasor
meu forte
meu quarto
onde tudo é só meu
e eu
como tal
governo minha própria loucura

febril

eu, por mim, me basto
encolho-me a qualquer custo
para que possa
passo
a
passo
a dor me cer

terça-feira, 1 de junho de 2010

Modelar-se.

O veado do Darwin estava certo. Que raiva dessa nossa capacidade de aceitação e adaptação, viu?... Tenho a nítida impressão de que se um dia o mar virasse merda continuaríamos a tirar nossas vestes para banhar-nos no mar marrom que apesar de tudo nos refrescaria.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

grão-menino

ampulheta da vida não vira de ponta cabeça
não brinca de vampiro nem planta bananeira
ampulheta da vida é cachoeira
oh areia que cai sem cessar

sei que cada grão é tão preciso
sei que é preciso perceber que cada grão é um menino
amarelo e redondinho
que de manhã cedinho aparece na janela com sua cara amarela
e nos convida pra viver
virtude é perceber

ampulheta da vida é grande como roda gigante
lá de cima vemos a tia, a prima, o rio
e rodamos até decorar a vista
e vivemos até um lado ficar vazio
oh ar que preenche insistentemente

sei que cada grão é tão preciso
sei que é preciso perceber que cada grão é um menino
amarelo e rendondinho
que de manhã cedinho aparece na janela com sua cara amarela
e nos convida pra viver
virtude é perceber





obs: à minha querida e gloriosa vó.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Uma Teoria Sobre A Extinção De Bons Compositores

Como já devem saber, ( http://omaisvendido.blogspot.com/2009/04/caminhando-e-cantando-e-segiundo-cancao.html ) todas as canções, do mundo inteiro, são compostas enquanto se caminha. É assim mesmo, enquanto se caminha, que aquela melodia lhe vem à cabeça, você canta a música linda que está criando e aí corre para casa e abusa da memória para passá-la ao violão e assim poder emocionar os outros. Porém, pensando sozinho, cheguei à uma conclusão sobre por que as lindas músicas, os lindos compositores, estão sendo engolidos pelo tempo. Claro, a música é universal e sempre transcenderá todos os tempos, pois não tem idade e uma vez registrada emociona a quem for, por isso é importante ter em mente que esta teoria refere-se somente à extinção de compositores atualmente, ou seja, pelo gradativo desaparecimento dos bons compositores - sim, refere-se apenas aos bons, os ruins sempre tiveram e sempre terão, aliás eu deveria depois pensar numa teoria sobre o Império dos Ruins Compositores, boa ideia. Enfim, vamos ao que interessa:
Hoje em dia, quem gosta de caminhar? Apesar de não se basear nisso, é importante lembrar que acima de tudo hoje em dia as pessoas estão cada vez mais apressadas, e podem ir a qualquer lugar de carro, de bicicleta, de moto, de taxi, de moto-taxi, de ônibus, de metrô, de helicóptero, de navio, de avião - apesar de ser um processo que vem tomando rumo oposto, já que as cidades estão infladas. Desse modo, é fato que atualmente as pessoas caminham, se não pouco, muito menos que antigamente - a época dos bons compositores. Porém, é agora que a teoria se explica: Quem, hoje, não tem um MP3 Player? Um iPod? Qualquer merda que toque música? E quem não usa o mesmo quando está caminhando? Andar é monótono e desse modo torna-se não tão chato quando estamos ouvindo uma boa musiquinha. É, pena que poucos se tocam que assim extinguiremos todos os bons compositores, que ao invés de compor suas lindas músicas enquanto caminham para chegar em casa e passar ao violão, estão ouvindo músicas já existentes para não ficarem entediados enquanto caminham!

sexta-feira, 19 de março de 2010

Letais voltas de um amor

- Então por que fizeste se saberias de tudo, de tudo que talvez não quisesses saber!? E agora ficamos assim, nesse amor intenso em ruínas que já não sabemos se somos capazes de restaurar! Amores se restauram!? Como antigas construções arruinadas pelo tempo que hoje pra nada mais servem que não ser abrigo de indigentes com suas unhas imundas e seus cachorros infestados de vermes? Eu não queria precisar restaurar nosso amor... não agora...
- Não agora? Não nunca! És pior que esses cachorros infestados de vermes! Sim... és pior que eles! Muito pior! Eles pelo menos seguem seus donos por toda a cidade, perambulando mancos com seu ar doentio...
- E o fazem por quê? Por pena e necessidade! É por isso que queres que eu fique contigo? Por pena e necessidade!?
- Se pelo menos assim fosses só meu...
- Mas eu sou!
- Não és...
- Sou!
- Não mais...
- Tu sabes que nada de mais aconteceu... foi só aquilo.
- Aquilo que sempre foi o mais importante pra mim.
- É? E há quanto tempo não nos beijamos? Chegamos do trabalho e comemos um ao outro com tanta gana que parece não haver mais ternura entre nós... isso sim sempre foi o mais importante pra mim.
- Será que acabou, então?
- Eu não vou aceitar que o que eu fiz seja o motivo de ter acabado.
- Que ótimo... e o que você propõe então?
- Eu te amo.
- Como sempre?
- Como sempre... desde aquele dia.
- E por que... então...?
- Também não sei, meu amor... Céus, que raiva! Eu não sei porque! Nunca planejei! Nunca busquei em sã consciência!
- Estavas bêbado.
- É... não quis dizer pra não parecer justificativa.
- Hm...
- Acho que me senti poderoso, sabe? Sim... porque antes de você eu nada era! Tive sim alguns amores, algumas razoáveis longas relações, mas...
- Quanto tempo?
- 4 meses...
- Hm...
- Mas sei lá! Contigo eu vi que sabia como fazer uma mulher feliz... na vida mas também na cama, entende?
- É com tanta certeza que dizes isso?
- Pare com isso... não é do teu costume. Nós dois sabemos muito bem que demos um ao outro os melhores orgasmos de toda a história da humanidade... Vem cá, vem...
- Não quero...
- Vamos deixar isso pra lá...
- Para, Luiz...
- Te amo tanto, mas tanto, mas tanto, Ju...
- Sai! Chega! Não é assim que a gente vai resolver isso! Eu não vou esquecer! E esquecer não é perdoar... por isso pare, por favor...
- Eu não sei como resolver isso...
- Eu também não...
(...)
- Aliás, eu sei sim. Vou dar uma volta.
- Você volta?
- Eu sempre volto, seu bobo... deve ser por isso que me maltratas tanto, aliás...
- Shh... não, não, não... pare com isso, meu bem... sem chorar, por favor... eu não mereço isso... nada disso.
- Mas eu mereço...
- Não seja tão cruel contigo mesma...
- É... talvez eu não mereça mesmo... vou dar uma volta.
- Você volta?...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

brincadeira

vêm de volta
cada um tem seu lugar
perigo é a vida e a tia descobrir
joga isso ali
aqui não vai caber
será possível só você não ver?

quanta
tanta
planta confusão!

é saltando que se chega mais pertinho da chuva
é caindo que a roupa de malha molha
quanta tralha, quanta trolha!
e por que não uma bala e uma bolha para de novo descontrair?

vida de criança é assim
atchim e saúde
joelho ralado
chocolate granulado
e
quando o tempo disfarça
xixi na calça!
ahahahaha

- molhou de novo? é banho já!


- jáááááá!!!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

devaneios de um triste

É engraçado como há tanto tempo não me sentia tão só. Todos têm suas vidas, suas alegrias e suas tardes entendiantes, mas parecem estar bem assim... sem mim. Parece que só a minha vida depende da vida dos outros. Uma tarde entendiante sozinho já é o bastante para surgir em mim uma raiva que leva meu punho senil de encontro com a parede. Porra que raiva! E é querer ler para eu me desconcentrar, é querer escrever para a televisão berrar, é querer ver um filme para o sono vim, é querer cantar para a fome bater, é querer sair para dar uma imensa vontade de... cagar. O tédio me rói, a solidão me mata. Eu preciso tanto dos outros, mas os outros já não percebem, seguem suas vidas com suas outras companhias - quando necessárias. E nessas horas, o que mais me dá, é saudade dela. Que textinho infantil... que pensamentos imbecis... mas porra, que raiva! Eu só quero viver um pouco mais... e com todos vocês! Vamos sair de casa?

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

depois de um tempo

o carro para
há uma venda no outro lado da rua
ainda de dentro
ele a vê de costas
ele sabe que é ela?

quatro portas se abrem
quatro pessoas saem
ele retorna o olhar
ela está de frente
eles se veem
e se reconhecem
por apenas 2 segundos.
ele segue
ela fica e paga o maço de cigarro.

15 minutos depois
ele anda na praia
ela também
com mais alguém
porém uns 30 metros na frente.

ele pode vê-la
nunca tinha reparado no seu caminhar
tinha?
ela não faz ideia
e fica apenas com o antigo encontro na cabeça
fica?
terão seus olhares causado posteriores reflexões?