quarta-feira, 28 de março de 2012

Algo que comece sem palavras
                                               e então
surja como forma abstrata um tesouro
escondido do panóptico

Sem vigilância
                     desenha-se
          livre
nas curvas
               das letras
                             das vi-
                      vências

encontros, desavenças
do perdido eu
                     consigo
transformando-se em célula real
                  
                          poesia
   arte

              ?

Que dirão
              as linhas
e a quem?

Tocará
         aquém
                   aonde?

Alguém sofre
                   alguém ama
                   alguém
chora
        ao ver
                 ouvir
          sentir
as linhas
             as formas
de alguém

E de quem a arte, quem tem?

Michelangelo apenas revelou
o homem
             que avistava
preso no bloco de mármore.

Revelaremos nós?
os montros semi-prontos
que estamos a guardar?

segunda-feira, 12 de março de 2012

Caminhada

O peso
de cada carne do meu corpo
pesa-me
agora
dum jeito torto
de cansaço.

Morto
e mais que pronto
prum sequente caminhar
na areia quente
da estrada
pelas vilas
da estrada
que embocam
no mar:

E seguir o mar
até os manguezais
e deles mesmo passar!
chegando
aos edênicos
coqueirais...

E catar coco, quebrar coco,
se banhar da água do coco
para perfeito estar:
tudo,
todo.

Pouco preciso,
e tenho muito
o que ainda caminhar.