sábado, 3 de dezembro de 2011

Poema do jato

Sou um rio
Esperando pela chuva
Pra molhar mais,
Derramar mais,
Transbordar.

Ai, meu coração,
Tanto quis me apaixonar
Mais e mais!
Tanto quis descobrir um corpo que mostrasse o que eu não sou!
E agora que encontrei mas não o posso ter?
E agora que o jato partiu e o leva, moreno e brilhante,
Saudoso ao meu desabar sufocante e singelo,
Pra muito, muito distante?

Agora,
Qualquer aparelho eletrônico risca minha poesia,
Meu lamento choroso já que a posse nem é meu fim,
Já que finjo não importar ser o outro
Ao passo que o tento incessantemente mesmo assim.

Por que, coração, não me contento com a beleza dos momentos vãos?
E corro cego ao ridículo e exponho-me com palavras e gestos desengonçados
Enquanto ouço a confissão sincera que também soaria como desilusão
Não fosse o fato de essas paredes terem algo amaldiçoado,
Que se mistura ao brilho esparramado pelos ombros
Onde perpassam os cabelos ondulados com algum cheirinho bom,
Entornando-se em verdade?

Meu nariz entupido impediu-me quase sempre
De guardar o forte aroma dos momentos
E lembrá-los de imediato quando o vento
É certeiro no alvo fácil e peçonhento
Que avisa todos outros do seu corpo
E avista a imagem do desejo:
Pela primeira vez, experimento.

Inspiro-te e te beijo, e me jogo, e a janela aberta porque faz calor apesar da hora,
E muita sede, e muito xixi, e molhadas as barrigas rentes;
Sentes o que eu sinto e conhecemo-nos então assim:
Conversando madrugada a fora numa noite que não tem mais fim.

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