terça-feira, 22 de novembro de 2011

madrugada

recapitulo um capítulo catapultado e esquecido
a memória segue atenta às suas funções:
esquecer o rosto bonito e lembrar dos dentes mal-distribuídos
- decepcionante porque eras tão linda

a odontologia toda em questão
como um simples estado de espírito
elas mesmas estragam a poesia
elas mesmas estragam seus dentes, minha ilusão.

no cenário tão improvável que perfeito, há pedestais,
chão quadriculado e arquibancadas eruditas onde um rei enfim impera,
gentes que se rolam pelo chão e são mandadas parar e param,
música ruim que bate incessante um ritmo mentiroso e cristais,
cristais de visões alucinantes e sedentas de intenções-intensidades:
a jovialidade nos jovens como a birra no bebê.

a luz azul não lembra o circo mas não precisa lembrar.
a tragédia já foi escrita, redigida e editada a mãos trêmulas, histéricas,
que guardaram um final patético disfarçado de bem-querer
aos ingênuos atores que se encontram para a desilusão

tu sim eu não

arrevoados vão
um para a cama
outro para a lama das calçadas disfarçadas de sujeira
que nada
há vida na calçada pois há conversa primeira
sobre esses que vêm e que vão e que podem vir e ir que bulhufas que são
impõem seus absurdos naturais e cegos e suas ondas de barulho
falam e berram e falam e sentam e saem e logram a cada minuto a hora sublime, o encontro perfeito,
e vão para outro lugar onde será maravilhoso estar, todos juntos, união-alegria-uhul!
azul azul azul é o circo da ilusão

caminho então por ruas anônimas
lamentando a desimportância das pessoas
sonhando com encontros verdadeiros
enquanto paralelamente vejo
como é linda a amizade, o parceiro,
que partilha a vontade e o desejo,
e caminha ao meu lado por distâncias
infindáveis na memória sem tempo

Nenhum comentário:

Postar um comentário