sábado, 17 de julho de 2010

diário de viagem [1]

De novo me encontro na estrada. As ruas mostram placas de uma outra língua, de uma outra visão de mundo. Capitalista? Pragmática?
Tudo bem, concordo, mas como visitante devo reconhecer o serviço do Estado em cada pedaço bem cuidado de estrada, em cada árvore de cada bairro, em cada... Enfim.
No rádio do carro uma música canta "I've got the world" e ainda diz mais: "Life is beautiful"... De fato? De fato! Vejo colinas pelo horizonte que nunca vi,
vejo planícies de uma mata seca, desértica, que me faz pensar sobre o tamanho desse mundo, dessa natureza, desse deus - e não de mim ou do meu pau.
Por falar em mim, pelo reflexo dessa tela de computador móvel (essa criação nojenta) enxergo um rosto de um cara - um homem, uma criança, um mentiroso,
um sincero e todas as contradições que o ser alguém remetem - de barba por fazer, testando até que ponto consegue sair de si e desvencilhar-se dessa coisa selvagem
que é chamada vaidade - ao mesmo tempo que veste roupas recentemente compradas: São tantas as contradições... A música muda, agora quem canta é João Gilberto.
Ah... que saudade da minha língua. Não essa mordida, queimada pelo café... a brasilleira, porra!
As palavras são lindas, os fonemas perfeitos, a complexidade de uma visão de mundo que nos permite pensar, pois a linguagem permite, limita e cria oportunidades
para o pensamento - embora essa relação não seja unilateral.
Isso tudo me traz, um pouquinho, de volta para o meu país, para o meu lugar. O tempo nem é tanto, mas eu sou daqueles que chega uma hora que o saco enche e até transborda de ficar tanto num lugar diferente do meu.
Mas esse momento ainda não chegou. Ainda tenho muito para ver e para delirar nos pensamentos sobre a minha vida e sobre as vidas que amo e que se encontram bem longe de mim.

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